quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Verdes e apaixonantes

Eram onze da noite quando entrou em casa. Enfim, tudo fazia sentido. Sem pressa destrancava a porta e caminhava timidamente entre os móveis da sala escura devido o cair da noite. O quarto estava como deixara de manhã antes de sair. Ficava feliz quando encontrava as 'bagunças' no lugar. Para ela era sinônimo de que tudo permanecera do seu jeito, como estivesse satisfeita.

Como em tudo na vida não desejava grandes coisas. Aprendeu a sonhar sem tirar os pés do chão e não se arrepender do que não fez. No fim, ao menos, tudo parecia fazer sentido. Naquela noite o sono veio tranquilo e rápido, como um suspiro profundo de alívio e paz. Só pensava que teria tudo novamente no dia seguinte.

A obrigação diária o fazia por prazer. Pelo trabalho a tarde, não tinha o hábito de acordar cedo. Às 9h estava de pé no quarto bege claro. A parte da manhã era seu milagre pessoal, sobre tantas coisas que poderia fazer, procurava não fazer nada, por determinação própria. A preguiça era um dos pecados que a perseguia.

Ao meio dia, tinha pressa em almoçar. O tempo tinha que ser medido com precisão para nada dar errado. Guiando pelas prórprias mãos os passos, caminhara até a calçada larga do centro da cidade. De repente os olhos refletiam o brilho que vira. Eram de um tom verde desconhecido, às vezes os via azuis e a noite tom de mel. Misteriosos.

Eles sempre escondiam as surpresas que gostara de saber. Sua curiosidade era em decifrar cada gesto e argumentar com a prolixidade de ser. Na verdade gostava disso. Era de opinião forte e sua profissão a favorecia no dom da palavra.

Por fim, chegava às 22h. Eram os melhores sessenta minutos do dia. Sem mais, não precisava explicar nada. Tudo já possuia sentido completo quando, mesmo a noite, via aquele brilho. Eram verdes e obcecados, apaixonantes.