sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Anjos no Vale

Para mim seus sonhos eram restritos à estrada. Poeira e velocidade faziam parte da rotina de todos, sobre duas rodas. Misteriosos e sombrios. Naquela tarde de domingo tinham muito mais a revelar. Traziam no preto e no couro de suas roupas histórias de vida e solidariedade para cerca de 100 famílias.

Distantes de mim, fisicamente, e de meu conhecimento, assim permanecemos durante meus vinte e dois outonos incompletos. Eram, de fato, Anjos, no Vale simples do interior de São Paulo.
Um a um subiam o morro na rua estreita do bairro. A missão era mais digna do que a exibição das motocicletas de grante porte com aderesos inusitados. Era véspera de natal e algo deveria ser feito para aquelas famílias, especialmente, para as crianças.

Imunes do mundo sorriam ao ver o movimento. Com pressa saíam de suas casas, esbarravam umas nas outras enquanto corriam em direção à Praça da Igreja Santa Rita. Em volta de um dos canteiros de árvores, uma surpresa.

Ali, o capacete e as luvas pretas deram lugar aos embrulhos distribuídos para as crianças carentes do local. Palhaço e papai noel estavam presentes, ainda que cansados em meio ao sol escaldante dos inícios de tarde de dezembro.

A festa anunciava o natal. Contentes as mães levavam os filhos para ganhar os presentes, alguns especiais. Ao canto pessoas se refugiavam na sombra e se refrescavam com refrigerante e picolé servidos. Tudo muito simples, mas rico.

Naquele dia os amantes do asfalto não tinham postura séria, ao contrário, desde o início da festa, assumiam o papel de benfeitores de um povo que só sabia sorrir com o que via. Ação linda, experiência de amor, que só quem viu pode explicar.

*Texto baseado na 12ªedição da festa de natal do grupo de motoqueiros Anjos do Vale.

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