sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Interior

Reflexão vista sem querer, mas que retrata tudo o que sou, ou melhor a maneira como acordei nesta manhã cinza de sexta-feira 13. Não estou bem, por dentro.

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Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser.Se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não é mais.Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi.


E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar.A ausência inútil da terceira as vezes me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.Fiquei desorganizada porque perdi o que não precisava? A minha nova covardia é a minha maior aventura e essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la.É como acordar de manhã na casa de um estrangeiro. não sei se simplesmente saberei ir.É difícil perder-se.


Por isso procurei depressa um modo de me achar sem que eu seja uma mentira viva.Estarei mais livre.Não. Sei que ainda não estou me sentindo livremente. Assustei-me porque não sabia onde ia dar essa estrada, nem para o quê.Ontem perdi durante horas e horas a minha montagem humana.Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida.

Clarice Lispector

Um comentário:

thalles.azevedo disse...

A Lispector é uma inspiração na minha vida, os textos parecem ser escritos e pensados pra mim, para quando ela morresse, algo na minha vida fizesse sentido, tomasse um rumo, acalmando meu coração!
Gosto dessa identificação que nos une em meros detalhes Fer! te amo!