segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Começo, meio e fim.

Sem vontade de escrever olhava para as mãos sem pressa de deslizar os dedos sobre o teclado velho do trabalho. Parava a cada minuto sem inspiração e analisava as unhas que fizera. Perdeu certo tempo refletindo sobre o que escreveria e apagando as muitas linhas que não a deixavam satisfeita. Tinha a eterna mania de querer que tudo estivesse correto. Queria corrigir tudo, inclusive a vida. No decorrer dos pensamentos que se transformavam em palavras de maneira veloz e despercebida, a vida corria para rumos desconhecidos em que não se acostumara.
Inquieta ainda parava para observar a sala grande e arejada do trabalho sobre o olhar atento dos colegas entretidos no que faziam. Às vezes se contentava em alguma conversa com um deles ou abria um largo sorriso quando algo lhe parecia engraçado. Por dentro não desejava aquilo. Naquele ambiente que circulavam muitas pessoas às vezes se sentia sozinha. Ninguém ali a podia compreender em sua essência. Tudo parecia superficial e a encomodava por completo.
Sentia falta dos amigos. Em alguns momentos via-se pensando no final de semana repleto de alegrias que teve a oportunidade de viver. Celebrou a união de dois seres que amava, recebeu o sorriso que esperou durante 15 meses, respirou aliviada, dançou intensamente, fez piada, riu da vida, ganhou uma rosa e dormiu por cansaço. Procurava não pensar nas tristezas que teve nesse meio termo. Não queria escrever sobre elas e sim guardá-las junto aos outros momentos no baú que prometeu à quem foi razão de tudo.
Esperava ser surpreendida e não se via errada ao pensar que tinha o direito de sê-lo. Anciosa olhava para os sapatos limpos e para o papel e a caneta abandonados sobre a mesa. Por alguns instantes perdia o olhar sobre aquilo que parecia tão passageiro e injusto. Buscava receber ligações de quem a fazia sorrir e tinha vontade de gritar por ser impedida de viver o que planejara para a noite de segunda-feira. Necessitava correr, sumir, viver.
Parecia que nada estava tão bom quanto ela realmente gostaria, mas se conformava com o que tinha. Buscava não questionar e lutar sempre por razões que poderiam superar as dores. Naquela manhã bocejara muitas vezes em razão do sono que trocara pela conversa até de madrugada com o primo-irmão. Juntava os dedos para refletir melhor sobre as palavras que escolhia com cuidado para expressar livremente. Gostava disso. Se sentia melhor quando escrevia e demonstrava, de algum modo, a rotina que preenchia seus dias de instantes comuns. Pensava no mistério, no que lhe era prometido por Deus. Nas palavras não via fim, mas quando percebeu que já era hora, foi colocando vírgulas, diminuindo rítmo e demarcando a história com um legítimo ponto final.

8 comentários:

Anônimo disse...
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Fernanda Ribeiro disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Fernanda Ribeiro disse...
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Anônimo disse...
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Fernanda Ribeiro disse...

Por finais felizes e instantes eternos!

Anônimo disse...
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