quinta-feira, 23 de julho de 2009

Fã número 1

"Goooool!!!" Ouvi do banheiro o grito estridente de meu pai. Era noite de quarta-feira, e claro, ele estava assistindo ao rotineiro jogo de futebol, mais precisamente a 13ª rodada do Campeonato Brasileiro, Internacional e São Paulo no estádio do Beira Rio. Somente um porém separava o jogo na TV e o grito de meu pai. Ele comemorava o gol do Santos, no combate entre Santos e Atlético - PR aos 27 minutos do segundo tempo. Ficou sabendo do gol, durante a partida que acompava, acredito eu, e explodiu de emoção.

Durante o tempo em que ele comemorava, saí do banheiro e fiquei o observando. Ele sempre vibrou, chorou, sofreu, chingou, esbravejou e sorriu diante das longas partidas de futebol que acompanhou durante seus quase 57 anos de vida. Lembrei-me de minha infância, em que eu sentava para assistir aos jogos com ele. No início, a paixão da adolescência não era entender os esquemas táticos, ou a marcação do árbitro, mas ver meus jogadores preferidos entrando em campo. A paixão pelo futebol veio depois.

Quando os jogadores que me encantavam seguiram suas vidas europa à fora, segui meu caminho ao lado do meu pai. Acompanhava aos jogos de quarta-feira sempre ao lado dele, e por uma coincidência do destino, ele me incentivou a me apaixonar pelo glorioso alvinegro praiano, Santos Futebol Clube. Tornei-me fã de cada jogada, cada lance, cada jogo comentado, de forma ímpar, pelo meu pai. Ele tinha uma paixão muito grande por aquele time, que eu compreendi sofrendo ao lado dele por cada gol, ou título perdido. Eu realmente gostava daquilo, e via que ele também sorria quando sentia a paixão brotando em mim.

Minha admiração cresceu ainda mais, quando ao lado dele, acompanhei, à risca, duas copas do mundo, de 2002 e 2006. Eram camisetas, tabelas, bandeiras, asfalto colorido de verde e amarelo, e a maior expectativa do mundo em dia de jogo do Brasil. Me lembro do meu pai me acordando de madrugada para não perder o jogo do Brasil, na Copa do Japão. Eu adorava. Ia com cobertor e travesseiro para a sala, muitas vezes acabava dormindo, e no fim meu pai me levava pra cama, para eu me perder no meu sono outra vez.

As lembranças do meu pai foram muitas, as melhores. Ele sempre foi um homem muito ocupado. Sempre trabalhou longe, acordou cedo, dormiu tarde. Seu exemplo de quietude sempre me chamou atenção. Fico orgulhosa quando as pessoas dizem que pareço com ele. Diante de todos os ensinamentos futebolísticos que me passou, o que aprendi foi com o tempo. O tempo que passávamos juntos, foi precioso pra mim. Depois do grito de Gol exclamado por ele, a memória resgatou esses momentos doces em que eram só ele e eu. Sobre todas as formas de amor paterno, percebi que maior que todas as admirações que tinha pelo que ele me ensinava, a dedicação maior era pra ele, por tudo que representava pra mim e representa. Por ter sido pai em todos os momentos, sou fã e sempre vou me lembrar do que me ensinou com o maior carinho que possa existir.


"Existe algo ilimitado no amor de um pai, algo que não pode falhar, algo no qual acreditar, mesmo que seja contra o mundo inteiro. Nos dias da nossa infância, gostamos de pensar que nosso pai tudo pode; mais tarde, acreditaremos que seu amor pode compreender tudo."

3 comentários:

Tatá Cardoso disse...

Parabéns, emocionante o texto...
Lembrei do meu pai, santista roxo... a diferença é que eu virei corintiano e os clássicos entre o Santos e o Corinthians nos colocava de lado opostos, mas no final qdo eu perdia ficava feliz pela vitória dele!

wgsalomão disse...

Adorei a crõnica, pena que é sobre o Santos...
Tá faltando o seu comentário lá no meu hein...

thalles.azevedo disse...

Lembranças de pai eu tenho poucas amiga, porém, sobre futebol, só me recordo do empenho para que eu tivesse um time de coração, infelizmente ele vai partir sem essa, que pena! Eu dizia: Tá bom pai, tá bom, Sou São Paulino, só não me pergunte o nome de nenhum jogador, pois não saberei lhe responder. Isto é fato! rs

Seus textos são ótimos amiga, sabes disso! :)